O projeto Incluudo é um projeto social que pretende reduzir a exclusão social e profissional de pessoas com disartria – distúrbios de fala de diferentes origens, através do desenvolvimento de um speech-to-text inovador, suportada por uma AI com acesso a uma base de dados de cerca de 1.000h de amostras de voz com a condição diagnosticada, para gerar legendas, traduções, transcrições e descrição audio de vídeos em tempo real.
A Incluudo é uma spin-off da Moov.tech, tendo chegado ao ecossistema Startup Leiria no início do ano após vencer o Programa de Aceleração TalentUP e vencer o Altice Innovation Award 2021, para apoio ao desenvolvimento da plataforma base da solução.
Falamos com a Filipa Bento, CEO do projeto social Incluudo, para perceber com tem sido a sua experiência nesta aventura e que conselhos tem para outros empreendedores.
Tenho 43 anos, sou curiosa, resiliente e portadora de Paralisia Cerebral. Gosto da diferença, amo a tecnologia, tenho interesse em conhecer pessoas, com outras línguas e culturas, gosto de desportos radicais e séries. Sou licenciada em Relações Internacionais, ativista pelos direitos das pessoas com deficiência e voluntária.
Já tinha o “bichinho” do empreendedorismo muito antes do Incluudo. A pandemia trouxe-me a oportunidade que procurava.
Com a pandemia, as pessoas com distúrbios da fala, deficiência, e com necessidades especiais, ficaram ainda mais excluídas e isoladas, pois, não podem ter contatos sociais presenciais, nem conseguem usar sites, as vídeo chamadas, para se comunicar, pois, estes não são acessíveis nem inclusivos. Este é um problema de exclusão que é necessário resolver. E assim nasceu, o incluudo!
Acreditamos que comunicar é uma necessidade e um direito básico. O propósito do Incluudo é permitir que todas as pessoas, independentemente da sua deficiência, da sua língua, da sua cultura e das suas diferenças, possam comunicar, entenderem e serem entendidas, sem barreiras!
O primeiro e mais difícil desafio foi fazer entender o impacto que a falta ou as dificuldades de comunicação tem na vida pessoal e profissional das pessoas e na sua qualidade de vida.
Para a grande maioria de nós, não nos “passa pela cabeça” que possamos não ter, perder (permanentemente, temporariamente, transitoriamente ou circunstancialmente), ou ficarmos limitados, na nossa capacidade de comunicar, de entendermos e sermos entendidos.
O segundo desafio, é a falta e ou insuficiência de apoio e recursos, para arrancar com um projeto destes. É particularmente difícil desenvolver projetos sociais, com tecnologia inovadora emergente com as condições oferecidas em Portugal.
É necessário apoiar mais e melhor os empreendedores em todas as etapas do seu projeto. É necessário investir no apoio aos promotores, para que estes possam investir e trabalhar no desenvolvimento e aceleração dos seus projetos, apesar do risco de ser empreendedor.
Estes apoios têm de ter consistência, coerência, e flexibilidade para conseguirem ser uma rede de suporte que apoie a inovação, a investigação e o rico. Em Portugal ainda é uma “aventura” ser empreendedor, pois, os apoios são: uma “manta de retalhos”, poucos, e pouco flexíveis.
No caso do Incluudo chegamos, até aqui, com o apoio de muitas instituições e de pessoas que acreditam no que estamos a fazer.
Quero deixar o meu agradecimento pessoal por todos os apoios institucionais que recebemos: da Startup-Leiria, da Void Software, da Defined AI, do Politécnico de Leiria, da Bten, da Microsoft e das IPSSs e outros. Quero ainda deixar um agradecimento às pessoas por de trás das instituições, com quem é um privilégio, contar e trabalhar em equipa.
Quero ainda fazer um agradecimento especial à Fundação Altice Portugal pela atribuição na sua primeira edição do 1.º Prêmio Altice Labs Innovation Award – Inclusive by Altice Foundation.
O terceiro desafio, é o financiamento: em Portugal há aversão ao risco. Há pouco investimento das empresas e do capital de risco em projetos sociais, inovadores e de alta tecnologia e em que é fundamental arriscar para desenvolver soluções inovadoras emergentes.
Para mim, qualquer empreendedor, tem de ter algumas características (ou trabalhá-las) para ter maiores hipóteses de sucesso. Estes são alguns dos meus concelhos:
Estamos focados numa candidatura, do INCLUUDO, a um programa do European Innovation Council – o Pathfinder – que apoia a exploração de ideias ousadas para tecnologias radicalmente novas, e apoia equipas de investigadores para pesquisar ou desenvolver uma tecnologia inovadora emergente.
Esta candidatura é uma parceria com a Void Software, o Information Technologies Institute (ITI) – formalmente conhecido como Informatics and Telematics Institute da Grécia, o GRUPO SANAMEDICAL ANIMED, de Espanha, e o Instituto Politécnico de Leiria, em Portugal.
Contamos ainda com outros apoios para a concretização desta candidatura e projeto. A estes e a todos os outros parceiros, muito obrigado, por acreditarem no Incluudo, e no seu impacto na vida e na qualidade de vida de milhões de pessoas.
Não posso terminar esta entrevista sem falar e agradecer aos co-fundador do Incluudo: Paulo Santo – CFO, Michelly Basso – Head of speech pathology; Luiz de Marchi – Head of Accessibility. E à restante equipa: Martha Punter – Head of Social & Medical Partners e o João Mota – CTO.
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